Entrances

sábado, 28 de janeiro de 2012

Abstrato

Abstrato

Descrevo a forma que vejo lúcida,
As figura por qual se esconde,
Pergunto-me tão calmo, por onde?
Anda a ofuscar a certeza, nítida?

Venho expressar essa razão,
O ser de meu nobre imaginário,
Vagou do abstrato para o lendário,
Revelando-a obscura imensidão.

No abismo conhecido "oculta arte".
Donde jaz os segredos da vida,
Também o da eterna partida,
Venho-lhe conceder minha parte.

Eu que sou um ser do sereno,
Do luar que a meu ver é mortuário,
Sendo poeta de tantos funerários,
Sou mero servo com ar ameno!

Os lamentos e as loucuras,
Do que oculta-se no obscuro,
Tendo sentimento suave e puro,
Carrasco da própria tortura.

Expresso o ser inimaginável,
Que vive no templo que é noturno,
Possuindo nomes tão soturnos,
Crucificando foi qual abominável!

Eu, mestre de minha elisão,
Sou aquém do agente destino,
Que entope as artérias dum coração,
Num ato que julgam qual divino.

Sou o poeta de vil porte,
Aquele que com o luar chora,
Que também para tal ser ora,
Para tudo esvair-se num corte.

Sendo o corpo sem o jazigo,
Fui adormecer no cósmico luar,
Com tantas estrelas eu fui sonhar,
Ao encontrar-me com ser antigo.

Alarde de minha morte

Alarde de minha morte

Eu que a muito já vivi
Escrevendo simples versos,
De lamentos tão dispersos,
Tão breve eu sei que morri.

Na vida em que nasci,
Fui de sábio a tolo,
Ao chorar pelo seu colo,
Para que eu possa sorrir!

Nada sou mas que a alma,
Que tem sede da poesia,
Na penumbra da maestria,
Com mórbida e eufórica calma.

Eu que no simples crepúsculo,
Que cobre a nossa existência,
Da vida que jaz em decadência
Adentro do ser que é minúsculo.

É de pobre e cruel porte,
A maldição que eu carrego,
Como as chagas do cego
Que chora a própria morte.

No alucinar da vida humana,
Fui de sábio a próprio tolo,
Ao chorar pelo seu colo,
No ebulir da massa insana!

A vida que já não é minha,
Anunciou sua própria hora,
Único o momento sendo, agora?
Onde se encontra sozinha.

Fui poeta dos sentimentos,
Para onde vou lágrimas não rolam,
Tantas dores não se desenrolam,
No austero seio do lamento.

Sendo ser de forma inane,
Já fui grandioso e culto,
A penumbra é um insulto,
Aos meus delírios de pane!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Apenas horas

Apenas horas

Num vai e vem eterno,
O ponteiro conta as horas,
A face dela aproxima-se agora,
Com um aconchego materno.

É incontável o tempo que aguardo,
Pois noto que já se passa das três.
Tudo que eu vivi já se refez,
Vem a mim de bom grado.

Eu, sob a sua pintura
Que cobre o hall central,
A observo com olhar natural,
No entoar de sua partitura.

No alento de seu manto,
O pão vem de seus contos,
Ao poetizar sob tais prantos,
É airoso total desencanto.

Vem adentro de meu ser,
Acalmar a minha psique,
Corromper o meu "dique"!
Até o momento de padecer.

Sendo incontável e indizível,
As histórias que se produzem,
Sobre a verdade incomensurável,
Que na mente introduzem.

E no fúnebre desdém,
Meu corpo que jaz frio,
E agora é só o vazio,
Possa chamar aquém?

De todo bom grado, eu peço
Que onde eu seja eterno,
A quietude não seja qual inverno,
A você clamo com apreço.

Que no jazer de meu corpo,
Agrilhoado no estado físico,
Onde nunca foi pacífico,
Eu não seja reciproco.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Eu Poeta

O Eu Poeta

Dos mais longíquos sonos,
Vivo na sombra do ambíguo,
A morte sendo ser iníquo,
E o destino sendo monótono

O eu lirico que viveu a tragédia,
Praguejando e lamuriando,
A si mesmo amaldiçoando,
Qual divina comédia!

O eu poeta frio que jaz,
Na penumbra de meus umbrais,
A forma espessa e espectral,
A singular dor de forma natural!

Nos dias de vida fantasiosa,
Em que sou a criança morta,
Abandonada em sua porta,
Sendo a morte assombrosa.

Eu, que no alucinar cósmico
Sofri com os meus sentimentos,
Desde meu fim ao nascimento,
Eu vi o encaixar do quadro lógico.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Não era sóbrio

Não era sóbrio

Nas noites frias e brilhantes,
Em que o luar me fascinava,
O bailar das estrelas me encantava,
Aquela beleza era distante.

Com a psique cambaleando,
E as pálpebras escurecendo,
Percebi logo estaria morrendo,
E não estava alucinando!

Eu, com meu corpo imóvel
Entendia o que era o amor,
E a fúnebre lira da dor.
Que cobre o corpo qual véu!

Já não havia sobriedade,
Nas palavras que eu sussurrava,
Mas pulsavam do peito que viviam,
Ocultando-se sob as minhas verdades.

Com o corpo frio e pálido,
Eu, já não podia ver nada.
Meu peito em dores profundas,
Eu, poeta bêbado que jaz inválido

domingo, 8 de janeiro de 2012

Mensageira da morte

Mensageira da morte


Fazia frio e era madrugada,
Quando ser tão desgraçado,
Ousou cruzar a alvorada,
Com o mal presságio, amaldiçoado.


Pousou sob o feixe da luz,
Trazendo consigo último aviso,
Vens! Conosco alma sem sorriso.
Vens aos braços que são meu!


Era assombroso o que ouvia,
Como o que ali, eu via.
Ser com sua medonha sombra,
Os meus medos assombram.


Congelei ao imaginar trevas infernais,
A dor e o sofrimento,
Sem alívio por um momento,
Disse a mim mesmo: jamais!


Na angústia e tamanho desgosto,
Espantei ser mortuário,
Que brotava do imaginário.
Onde via o meu rosto.


Dizendo deixa-me em paz,
Eu que espero o que é eterno,
Sendo temente a céu e inferno,
Vá e não volte nunca mais!


Fazia frio e era madrugada,
Quando ser tão desgraçado,
Ousou cruzar a alvorada,
Com seu mal presságio, amaldiçoado!


Pousou sobre meus trabalhos,
Assombrando-me pôs me a retalhos.
Enquanto tão quieto, falou:
Não fugirá de quem sou!


Enquanto adormeço em dezembro,
Com clareza eu me lembro
Quando ser de erudito porte,
Comunicou a minha morte!


Pois fazia frio e era madrugada,
Quando o servo mortuário,
Ousou cruzar a alvorada
Violando meu santuário, solitário.

Ao eterno silêncio da alma

Ao Eterno Silêncio da Alma


Onde o sol se via poente,
Eu já não era falante,
Febril em estado delirante,
De corpo e mente não era ciente,


Aquilo era a forma, descalabro!
Onde já não havia atitude,
Sufocava-me a quietude,
Tudo aparente era faces, macabro?


Compreendi a agonia do surdo,
Pois ali nada ouvia
Com a tranquilidade sofria.
Qual pobre, louco e mudo!


Eu que já não podia expressar,
O que queria, em palavras.
A serem ditas foram semi palavras
Mal conseguia, tudo desabafar.


Absorto em todo mal que causava,
A dor e as lágrimas descomunais
O medo de um nunca mais,
As minhas angústias, completava.


Eu que não suporto o silêncio,
Vivo em sua equação diária
Sem números ou pessoas imaginárias,
Trancafiado nas portas d'um hospício.


Onde a lua era nascente,
Eu já não era mais falante,
Febril em estado delirante,
De um corpo já não era remanescente.


Moribunda a alma,
Que em constantes prantos,
Via-se em mil desencantos
Com a absurda calma.


No raiar do sol ia a loucura,
Ao nascer da noite em calafrios,
Em sinistra amargura.


Onde sol e lua faleciam, 
Eu nunca fui ser falante.
Frio, mórbido e delirante!
Todos ao meu redor desfaleciam.

Subconsciente

Subconsciente


Onde vi raiar o inescrupuloso,
Alojado nas memórias,
Jazendo em mil inglórias,
De terror incomensurável.


Nada era real ou fantasioso,
Uma peça vil elaborada,
Com histórias, marcadas.
Porém tudo era grandioso.


No meu cérebro, permanecia
E no mais longíquo tempo,
Aquilo nunca adormeceria,
Nem mesmo com fortes ventos.


Maldito que permanece em mim,
Por longas noites e eternos dias,
Até mesmo nas poesias,
Aos futuros anos viveria sem fim.

Lobotomia

Lobotomia


Separa-me o corpo da mente,
Deixando-me qual fantasma,
Ao sugar de mim todo plasma
Cerebral, deixando-me demente.


Penetra no lobo frontal,
Retirando tudo que foi real,
Mutilando o que foi natural,
Corrompendo a massa cerebral.


Violando o que foi sagrado,
Sou a réstia do inane.
Pobre corpo sem fome,
Qual gado marcado.


Eu que já não possuo ego,
Desgraço-me com último desejo:
Vens até mim inane beijo.
Ofusca-me o mundo qual cego.

Imaginação

Imaginação


Venho a todos descrever,
O que há ocultado na psique,
No timbre de um clique,
A infinidade a ponto de nascer.


Rápida qual velocidade da luz,
O big bang, cerebral.
Escrito sobre ser espectral,
Pulsam de mim, feito pus.


Onde tudo era possível,
Na ebulição da massa cinzenta,
Urgiam almas vis e corpulentas.
Ditei o que era indizível.


O destino era previsível,
Notei que tudo era imortal,
Somente o tempo sendo mortal,
Já não sendo ser invisível,


Observei de perto o abismo,
Que é a lei a todos humanos,
O medo dos ingênuos insanos,
Nada era um simples fanatismo.

Fúnebre alusão

Fúnebre Alusão


O tempo que a muito abandonou,
A pobre alma que há no túmulo,
Trancafiada no cadáver nulo,
Vítima da vida que desmoronou.


O badalar e o frio vento,
Únicas lembranças realistas,
Relatadas pela alma pessimista
Que reside logo ao centro.


Não era a fértil imaginação,
Pois o que via ali lamuriando,
Pela vida arrancada de suas mãos.


Era a pobre e não simples alusão,
Praguejando pela vida passada
Ao leito do túmulo, jazia irada.

Contraditório

Contraditório


Nada era real ou ilusório.
Eu, com minha mente aquecida
A morte aparente é merecida,
Ao dizer adeus no velório.


O cosmo que contemplara-me,
Com o que os olhos não sabiam,
Sensações que logo morriam,
A insanidade, que não saciara-me!


O tempo e meu ego volátil,
Aos pés do que era indizível,
Raiando, o que aos outros era invisível?
Toda vida maleável e portátil.


Vens a mim o que é impossível.
As possibilidades implausíveis,
As soluções que são cabíveis,
Vens até mim, morte sendo possível!

A corte

A corte


Eram mortos, mas estavam vivos
Seres que brotavam das abissais,
Ecoando até dos infernais
Despertando dores, primitivos.


O juiz com seu robe negro,
Com marcas do mártir,
Falso qual presente de grego,
A sentença, sem o que discutir.


O promotor que ali aguardava,
Os réus todos culpados,
Pela corte, condenados!


O carrasco no escuro esperava,
A sua negra máscara,
O próprio inferno forjará.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Obituário







Obituário


Vens! Adentro deste sepulcro
A hora é agora, a morte é crua.
Sem suavizar o que jaz no breu,
E o último tinir o portal rasgando
Ao meio, o barulho do velcro.


O fim é a eterna rua,
Tão vasto quando o branco céu.
Negror da tinta demonstrando
Que ali nada há, o morfético.
Que começou a ser cadavérico.


Vens! Adentro do corpo frio,
Conhecer o estado, paralitico
O falso terror, apocalíptico
Perceber o que é eterno qual rio,
Vens! Concretizar o obituário.


Eu que na verdade morri,
Nos delírios cerebrais,
Meu corpo jaz entre mortais
Eu, que tentei sorrir,
Com meu trágico cenário.


Vens! Adentro deste sepulcro
Conhecer o eu paralitico,
Que é de domínio público,
Assistir os deuses, humanitários,
Prescrever meu futuro obituário!