O espelho do Poeta
Calaram-se as bocas nesta madrugada
Os olhos que antes assombram, na neblina
Agora são cegos, pelo corvo de minha sina
Este que escurece aquelas manhas doiradas
Sou, como este mesmo corvo já morto há três dias
Exalando pelos poros minha pútrida composição
Que antes deu me a vida, mas na terrível negação
Ruiu-me qual tempo ruiu antigas utopias
Entro, pela porta de meu quarto
Não há nada, só o vazio incompleto
Desta noite e as sombras a vagar no teto
Enquanto adormeço nas dores d'um infarto
Entra a luz pela janela e o que vê, nada?
Somente o odor deste leito decomposto
Mas no espelho, a luz alude com um rosto
É minha alma pela eternidade amaldiçoada